19/05/2025

Negligenciar a nuvem pode criar um silo de ameaças ocultas na sua empresa

Por Audreyn Justus, da Solo Network

A computação em nuvem transformou a forma como as empresas brasileiras lidam com dados, aplicações e processos internos, mas também abriu uma série de questionamentos em torno de governança e segurança. Há alguns anos, as discussões sobre migração para a nuvem envolviam, principalmente, custos, escalabilidade e flexibilidade. Hoje, com a evolução do mercado e a disseminação de soluções de cloud híbrida e multicloud, o foco recai cada vez mais na proteção de dados e na prevenção de vulnerabilidades. E isso exige uma visão estratégica que vá além da mera adoção de tecnologias avançadas. É preciso entender que a própria dinamicidade da nuvem pode gerar cenários complexos e, muitas vezes, até invisíveis de ameaças, caso não haja um cuidado rigoroso com políticas de segurança e monitoramento contínuo.

O problema é que com essa “corrida” em direção à cloud, muitas organizações estão operando em uma infraestrutura mal configurada, ou sem nenhum tipo de segurança adicional – é claro que hoje os provedores de serviço oferecem uma boa camada de proteção, mas existem soluções específicas que auxiliam justamente onde os sistemas nativos não alcançam, como vulnerabilidades de sistema, ameaças complexas, credenciais esquecidas, entre outros.

Além disso, quando não há políticas definidas de segurança, nem uma postura proativa de identificação de falhas na nuvem, as empresas acabam construindo um ambiente de TI fragmentado, onde cada área adota soluções distintas e, muitas vezes, sem qualquer comunicação ou verificação de compliance.

Quando a nuvem se torna invisível, as ameaças crescem

A nuvem oferece um dinamismo ímpar quando se fala de infraestrutura: com um clique, é possível aumentar ou diminuir número de servidores, volume de dados, etc. O problema é que o dinamismo inerente a esses ambientes, em que recursos podem ser criados e removidos com poucos cliques, facilita a proliferação de instâncias e serviços cuja existência nem sempre é monitorada de perto.

Um estudo recente da IDC apontou que cerca de 40% das empresas enfrentam dificuldades para mapear com clareza todos os serviços que rodam em nuvem, especialmente quando adotam plataformas de provedores diferentes. Essa falta de visibilidade gera brechas para configurações incorretas, senhas fracas, acessos indevidos e outros problemas que podem evoluir para incidentes de segurança.

É nesse vácuo de governança que surgem os silos de ameaças ocultas. Um departamento que contrata uma solução de cloud sem a anuência da área de TI, ou que compartilha dados sensíveis por meio de aplicativos paralelos, cria uma área cinzenta onde ninguém tem clareza sobre quais informações estão armazenadas, quem tem acesso a elas ou que camadas de proteção foram implementadas.

O risco de fragmentação e o impacto no Brasil

O mercado brasileiro vive um momento de aceleração da transformação digital, impulsionado pelo e-commerce e pela necessidade de inovar em serviços online. Essa corrida, em muitos casos, faz com que áreas de negócio adotem soluções na nuvem de forma autônoma, sem esperar por TI.

Ainda que a nuvem facilite essa rápida tomada de decisão, o resultado costuma ser um ambiente fragmentado, difícil de mapear e, por consequência, de proteger. Uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) indica que cerca de 35% das médias e grandes empresas no país já usam ambientes híbridos, mesclando datacenters locais, nuvens públicas e soluções de software como serviço. Essa diversidade aumenta a exposição a vulnerabilidades, principalmente quando não há uma estratégia centralizada de gestão de acessos e de monitoramento de ameaças.

Empresas que não adotam ferramentas de visibilidade e controle correm o risco de ter vários “pontos cegos” operando ao mesmo tempo. Mesmo um provedor de cloud de renome internacional não consegue garantir a proteção integral se a organização não configurar adequadamente seus recursos e não ativar protocolos mínimos de segurança. O custo de ignorar esse risco não se reflete apenas em possíveis ataques cibernéticos bem-sucedidos, mas também em disrupções operacionais que podem prejudicar a experiência de clientes e parceiros.

Um caminho estratégico para a segurança e a governança

Para evitar o surgimento de silos de ameaças ocultas, a nuvem precisa ser encarada como a base da estratégia corporativa, e não apenas um serviço de suporte operacional. A partir dessa perspectiva, a criação de uma cultura de segurança se torna tão relevante quanto a escolha dos provedores de cloud ou das ferramentas utilizadas.

É preciso estabelecer políticas de classificação de dados, definir quem tem acesso a cada aplicação e criar processos de auditoria recorrentes para verificar se as configurações seguem as melhores práticas. Embora muitas organizações enxerguem essa abordagem como burocrática, a verdade é que a falta de governança gera um cenário ainda mais complexo quando surgem incidentes. O custo de remediação tende a ser superior ao de uma implementação estruturada desde o início, sem contar os danos à imagem institucional.

Em projetos de multicloud, por exemplo, as áreas de negócio podem contratar serviços de diferentes empresas, cada qual com seu nível de suporte e suas próprias responsabilidades no modelo de segurança compartilhada. A confusão em torno de quem faz o quê é um prato cheio para vulnerabilidades. Se houver um plano integrado, alinhado ao departamento jurídico e às diretrizes de compliance, a empresa se posiciona de maneira muito mais forte para negociar contratos e exigir compromissos formais de proteção de dados.

Ao mesmo tempo, a busca por consultorias ou parceiros especializados pode encurtar a curva de aprendizado e oferecer insights valiosos sobre como aprimorar a segurança de forma eficiente. Trata-se de uma opção que muitas empresas brasileiras têm adotado, seja pela carência de mão de obra interna, seja pela necessidade de lidar com tecnologias avançadas, como automação, inteligência artificial e análise em tempo real.

Em última instância, negligenciar a nuvem e permitir a formação de silos de ameaças ocultas pode minar a competitividade das empresas brasileiras, que ainda enfrentam desafios estruturais na economia e na adoção de novas tecnologias. As organizações que apostarem em uma governança consistente, capaz de alinhar a agilidade necessária ao rigor na proteção de dados, terão mais chances de se destacar em um cenário onde clientes exigem disponibilidade, privacidade e transparência. Essa postura não deve ser vista como mera precaução, mas como parte integrante de um plano de negócios voltado a aproveitar o potencial imenso que a computação em nuvem oferece, sem abrir brechas para ataques e falhas que podem colocar tudo a perder.


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