05/12/2025

Migração para SAP S/4HANA: o risco de deixar para a última hora

Por Rodrigo Porto, Gerente Comercial na Selbetti Business Consulting

Com pouco mais de dois anos faltando para o fim do suporte oficial ao SAP ECC 6 – que se encerra em 31 de dezembro de 2027, muitas empresas ainda não migraram para o SAP S/4HANA, e adiar essa transição representa um risco. Especialistas já projetam um pico de demanda em 2026, o que pode levar à escassez de profissionais qualificados, aumento nos custos de implementação e migrações apressadas, com alto risco para operações críticas. Para quem ainda não iniciou o processo, o tempo de planejar com segurança está acabando.

Estimativas de mercado apontam que a maior parte das empresas que planejam migrar ainda está no meio do processo: cerca de 30% tinham a expectativa de concluir o processo até o fim deste ano, enquanto outros 30% devem finalizar o projeto entre 2026 e 2027. Apenas uma fração da base já completou a jornada — o que concentra a pressão nos dois anos finais antes do fim do suporte.

O risco da migração tardia

Até 2023, o ritmo de adoção do S/4HANA era lento. Estudos da Gartner indicavam que, globalmente, menos de 40% dos clientes SAP haviam iniciado ou concluído o processo de migração. No Brasil, o número era praticamente o mesmo. A postergação foi atribuída a três fatores principais: a estabilidade do ECC em muitas organizações, a complexidade técnica da migração – sobretudo em ambientes altamente customizados, e o receio de custos elevados associados ao projeto.

Somado a isso, havia uma crença difusa no mercado de que o suporte poderia ser prorrogado. Após 31 de dezembro de 2027, apenas empresas com versões mais atualizadas do ECC e que aceitarem pagar tarifas extras poderão contratar suporte estendido até 2030 — e ainda assim, com escopo limitado.

Do ponto de vista estratégico, migrar sob pressão de prazo é sempre mais caro. Quanto mais perto de 2027, maior será a disputa por consultorias, especialistas técnicos, squads de implantação e infraestrutura de suporte. Um levantamento da Tivit apontou que 2026 será o “pico de procura” por migrações para S/4HANA. O problema é que o volume de profissionais certificados e experientes não cresce no mesmo ritmo. O mercado simplesmente não comporta dezenas de migrações simultâneas, em grandes corporações, todas exigindo escopos completos e cronogramas de 12 a 24 meses.

O risco, nesse cenário, é o efeito cascata: preços sobem, disponibilidade cai, projetos são comprimidos ou conduzidos por times pouco qualificados, e as consequências recaem sobre operações críticas. Módulos implantados pela metade, integrações instáveis, falhas no go-live e adoção incompleta podem transformar uma migração apressada em um gargalo operacional — com impacto direto sobre a cadeia produtiva, o financeiro e o compliance.

Outro risco frequentemente subestimado é a curva de aprendizado da nova plataforma. O S/4HANA não é apenas uma nova versão do ECC. É uma arquitetura diferente, com outro modelo de dados, interface renovada, automações integradas e estrutura de processos mais padronizada. Para extrair valor real do novo ERP, é preciso tempo de adaptação, revisão de processos, capacitação das equipes e maturidade na governança. Fazer isso sob pressão de prazo compromete o resultado do investimento e é perdida uma ótima oportunidade para otimizar processos.

Planejamento e governança: como evitar o caos no apagar das luzes

As empresas que ainda não iniciaram a migração para o S/4HANA precisam encarar o projeto como prioridade estratégica imediata – projeto corporativo – mobilizando recursos e definindo um roteiro claro. Com planejamento e governança adequados, é totalmente possível executar a transição de forma bem-sucedida, minimizando impactos e extraindo valor do novo sistema.  

O primeiro passo é montar uma estrutura de projeto robusta, com patrocinadores no alto escalão e envolvimento multidisciplinar, com TI e áreas de negócio lado a lado. A experiência demonstra que migrações de ERP não são somente um assunto de tecnologia – elas afetam processos corporativos e pessoas, exigindo gestão de mudança e alinhamento organizacional tanto quanto expertise técnica.

Migrar com segurança e eficiência exige mais do que tecnologia, requer estrutura, disciplina e alinhamento organizacional. Um ponto de partida indispensável é a governança: estabelecer um PMO dedicado, com papéis bem definidos, cronograma realista e indicadores de sucesso claros, permite antecipar riscos e manter todos os envolvidos – de times técnicos a executivos de negócio – em sintonia com os objetivos do projeto.  

Paralelamente, é essencial preparar os dados que alimentarão o novo sistema. A etapa de limpeza e organização, com deduplicação para eliminar as cópias extras de informações, correções e validação, deve envolver as áreas de negócio desde o início, criando uma base confiável para a migração e evitando ruídos que comprometem os resultados.

Outro fator decisivo é a gestão da mudança. Mudar o ERP não significa apenas trocar sistemas: é transformar rotinas, fluxos e formas de trabalhar. Por isso, colocar as pessoas no centro da jornada é determinante. Comunicação clara desde o início, treinamentos adequados às novas interfaces, e preparação dos usuários para os novos processos fazem toda a diferença. Em empresas que já migraram, um ponto em comum se repete: a migração só atinge seu potencial quando acompanhada de investimento real em cultura, capacitação e engajamento. Sem isso, qualquer tecnologia perde força na prática.

O prazo final de suporte em 2027 está logo ali na frente, e os números mostram que a maioria das empresas ainda precisa correr atrás desse objetivo. Os riscos de adiar até o último instante são altos demais: desde custos exponenciais (seja pagando suporte estendido, seja pagando caro por projetos emergenciais) até o perigo real de interrupção do negócio por uma migração feita às pressas ou – pior – pela falha em migrar a tempo.

Os próximos dois anos serão decisivos. Cada mês conta nessa preparação. Não deixe para o “apagar das luzes” de 2027 aquilo que pode (e deve) ser feito agora – a segurança e a continuidade das operações do seu negócio dependem dessa decisão proativa hoje.


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Créditos: Arquivo/Reprodução