Internacionalização da energia solar brasileira: por que aderir aos padrões globais é estratégico para o país
Por Vinicius Gibrail, Diretor da Divisão de Produtos Solares e Comerciais da TÜV Rheinland na América do Sul
A indústria de energia solar fotovoltaica do Brasil vive um momento de rápido crescimento e amadurecimento. Nesse sentido, a internacionalização tem sido um caminho natural e estratégico, tanto para ampliar mercados de exportação quanto para atrair investimentos estrangeiros. Um pilar fundamental desse movimento é a adesão a padrões globais de qualidade e segurança, por meio de certificações internacionais reconhecidas.
No Brasil, por muito tempo a única obrigatoriedade para equipamentos fotovoltaicos foi o selo do INMETRO, que estabelece critérios mínimos de desempenho e segurança para comercialização nacional. Contudo, a ausência de uma certificação técnica mais abrangente permitiu a proliferação de equipamentos com diferentes níveis de qualidade. Neste sentido, as certificações internacionais voluntárias têm se tornado referência de qualidade.
Organismos independentes testam os equipamentos solares de forma muito mais completa, segundo padrões internacionais rigorosos. Por exemplo, a norma IEC 61215 (da IEC) envolve cerca de 18 a 21 ensaios diferentes em módulos fotovoltaicos, incluindo ciclos de temperatura, umidade, teste de resistência mecânica, ensaios de degradação acelerada (damp heat), testes elétricos de isolação, entre outros.
Esses procedimentos vão muito além do exigido localmente e servem para assegurar que o painel possa operar com desempenho e segurança durante toda sua vida útil projetada – que pode superar os 25 anos. Mesmo que a análise do INMETRO seja extremamente relevante, o teste nacional contempla apenas 1 dos 18 testes recomendados internacionalmente.
Adotar certificações internacionais confere, portanto, garantia de qualidade e confiabilidade reconhecida globalmente. Quando um produto solar brasileiro — seja um painel, um inversor ou outro componente — passa nos testes segundo as normas IEC, isso significa que ele atende aos requisitos considerados mundialmente necessários para desempenho, durabilidade e segurança. Esses requisitos são justamente os exigidos em mercados avançados como Europa, Estados Unidos, China, Japão e vários outros, onde a conformidade com as normas IEC é vista como mínimo obrigatório para comercialização.
Módulos solares: qualidade comprovada para competir no exterior
A IEC define normas específicas para módulos solares, principalmente a IEC 61215, que trata da qualificação de projeto e desempenho, e a IEC 61730, que aborda requisitos de segurança elétrica. Fabricantes brasileiros que querem exportar seus painéis precisam obter essas certificações junto a laboratórios acreditados internacionalmente, comprovando que seus produtos resistem a condições adversas e operam com segurança equivalente aos melhores do mundo.
A certificação IEC 61215/61730 traz a confiança que o equipamento foi aprovado em todos os testes de stress, climáticos e elétricos que os mercados mais exigentes do mundo demandam. A própria Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem alinhado seus padrões aos da IEC; em 2024, a ABNT publicou a norma NBR IEC 61215-1:2024, uma tradução da norma IEC 61215-1:2021, listando 21 ensaios de qualidade para módulos fotovoltaicos. Isso mostra um movimento nacional de aproximação aos padrões globais, facilitando que fabricantes locais sigam as mesmas diretrizes técnicas reconhecidas internacionalmente.
Inversores e componentes: adequação global e novos mercados
Além dos painéis, outros componentes críticos como os inversores fotovoltaicos também precisam aderir a padrões globais. Os inversores, responsáveis por converter a energia dos módulos em eletricidade utilizável na rede, devem cumprir normas de segurança elétrica e de desempenho específicas.
Internacionalmente, existem certificações como a IEC 62116, que faz o teste de anti-ilhamento, e requisitos de compatibilidade com rede, as quais correspondem às normas IEC/EN de conexão à rede, equivalentes às normas de grid code europeias e norte-americanas. No Brasil, a Portaria INMETRO 004/2011 introduziu a certificação compulsória de inversores conectados à rede até 10 kW, assegurando parâmetros mínimos de eficiência e proteção.
Contudo, para equipamentos de maior porte ou casos fora do escopo do INMETRO, é praxe que distribuidoras de energia e clientes exijam certificados de conformidade emitidos por laboratórios internacionais. O mesmo vale para outros componentes do sistema solar fotovoltaico – estruturas de fixação, rastreadores solares (trackers), fusíveis, cabos, conectores e até baterias de armazenamento.
Cada um desses itens possui normas técnicas internacionais que balizam a qualidade. Quando produtos brasileiros desses segmentos seguem tais normas e obtêm certificações reconhecidas, aumentam sua aceitação no mercado global.
Por exemplo, uma empresa nacional que produza estruturas de montagem para painéis pode buscar certificações ISO/IEC para resistência mecânica e tratamento anticorrosão; assim, seus produtos terão melhor entrada em projetos no exterior, que geralmente exigem conformidade a normas internacionais de construção e segurança.
Do ponto de vista comercial, alinhar-se com padrões globais para quaisquer componentes utilizados na geração de energia fotovoltaica, reduz obstáculos técnicos. Muitos países só permitem a importação e uso de equipamentos solares certificados conforme padrões IEC ou equivalentes. Para citar um caso, na União Europeia é obrigatório que inversores solares tenham marcação CE, o que implica atender a diversas normas IEC/EN; nos Estados Unidos, inversores e módulos precisam de certificações como UL e IEEE, que guardam correspondência com normas IEC. Se um produto brasileiro já nasce em conformidade com esses padrões internacionais, o processo de homologação em outros países torna-se muito mais ágil, sem necessidade de refazer testes do zero. Isso poupa tempo e custos, acelerando a entrada em novos mercados.
Mais do que cumprir uma formalidade técnica, abraçar certificações como IEC 61215, IEC 61730, entre outras, significa posicionar o Brasil no patamar de excelência exigido pelas maiores economias do mundo. Os reflexos dessa estratégia são claros: empresas nacionais mais preparadas para exportar, produtos confiáveis que conquistam a preferência de clientes e investidores, e um mercado doméstico fortalecido por equipamentos de melhor desempenho e segurança.
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