24/11/2025

De riscos operacionais ao ESG: por que HAZID e HAZOP voltam ao centro das decisões industriais

Por Katheryn Zelaya, Especialista em Análise de Riscos, TÜV Rheinland

O setor de óleo e gás opera em um contexto de riscos operacionais e regulatórios cada vez mais elevados, impulsionado por acidentes de grande repercussão e pelo aumento da complexidade industrial. Nas últimas décadas, desastres industriais como explosões em plataformas petrolíferas e vazamentos químicos evidenciaram o potencial de catástrofes transfronteiriças.

No Brasil, por exemplo, a explosão da plataforma P-36 em 2001 resultou em 11 mortes e no afundamento da instalação. Internacionalmente, o caso do Golfo do México em 2010 – com a explosão de uma sonda de perfuração, causando 11 mortes – reforçou os impactos humanos e ambientais de acidentes de grande porte. Além desses grandes eventos, inúmeras ocorrências menores frequentemente passam sem destaque na mídia, mas somam pressões regulatórias contínuas sobre as empresas de energia.

Diante da crescente complexidade do setor, as empresas de óleo e gás estão recorrendo a metodologias robustas de análise de riscos – notadamente o HAZID (Hazard Identification, ou Identificação de Perigos) e o HAZOP (Hazard and Operability Study, ou Estudo de Perigos e Operabilidade) – como pilares estratégicos para prevenir acidentes, assegurar conformidade legal e proteger tanto o meio ambiente quanto a continuidade dos negócios.

HAZID e HAZOP: conceitos, diferenças e complementaridades

O HAZID e o HAZOP são metodologias de análise de risco que se complementam ao longo do ciclo de vida de projetos e operações industriais. O HAZID é uma técnica de identificação de perigos em estágio inicial – tipicamente aplicada nas fases conceituais de projetos. A metodologia também fornece uma visão dos riscos em potencial, e permite definir metas iniciais de segurança de forma proativa.

Já o HAZOP aprofunda-se na operacionalidade e nos detalhes de processo. Trata-se de uma análise estruturada, geralmente realizada sobre fluxogramas de processo e diagramas P&ID (Piping & Instrumentation), examinando sistematicamente possíveis desvios de parâmetros de projeto, e suas consequências na segurança e na operação.

Diferentemente do HAZID, o HAZOP requer informações de projeto mais maduras e costuma ocorrer no meio da fase de engenharia detalhada ou durante modificações operacionais, quando já se dispõe de dados suficientes sobre o sistema.

Em ambientes altamente automatizados e interdependentes – característica do setor de óleo e gás, com instalações offshore, refinarias e plantas petroquímicas repletas de sensores, controles digitais e processos contínuos – as análises HAZID e HAZOP tornaram-se ferramentas importantes para prevenção de acidentes.

Essas técnicas permitem identificar potenciais falhas, pontos de periculosidade e cenários de acidente antes que se materializem, viabilizando a implementação de barreiras de controle ou mitigação de forma proativa. Estudos indicam que a aplicação criteriosa de HAZOP desde as fases de projeto contribui significativamente para evitar acidentes, reduzir tempos de inatividade não planejada e assegurar operações contínuas e confiáveis.

A efetividade do HAZID/HAZOP é amplificada quando essas metodologias são conduzidas em alinhamento com padrões internacionais de gestão de risco, segurança funcional e gestão ambiental. Diversas normas reconhecem ou até exigem a realização de análises de perigos sistemáticas como parte integrante do ciclo de vida de segurança e da governança de riscos.

Por exemplo, a norma IEC 61511 (segurança funcional em indústrias de processo) estabelece requisitos específicos para a implementação de sistemas instrumentados de segurança (SIS) com o objetivo de garantir a segurança funcional. A norma ressalta a importância de identificar perigos e avaliar riscos. Nesse contexto, técnica de Análise de Perigos e Processos (PHA), como HAZOP (Hazard and Operability Study) são fundamentais para cumprir os requisitos de identificação de cenários de perigo e orientar a definição dos SIL de camadas de proteção necessárias para sistemas de segurança eficazes.

A norma IEC 61882 complementa isso, fornecendo diretrizes detalhadas sobre como conduzir análises de risco  HAZOP.

A norma ISO 31000 (gestão de riscos) oferece um framework abrangente para a gestão de riscos, enfatizando que a identificação de riscos é um passo crítico e inicial no processo. Dentro desse framework, o HAZID serve como um método para identificar riscos operacionais em fases iniciais, enquanto o HAZOP proporciona uma análise detalhada permitindo uma compreensão mais profunda dos perigos e suas consequências. Ambas as metodologias contribuem significativamente para o tratamento, monitoramento e mitigação de riscos, alinhando-se aos princípios e diretrizes da ISO 31000.

No domínio da gestão ambiental, a norma ISO 14001 exige que as organizações identifiquem e avaliem os riscos e impactos ambientais resultantes de suas atividades, produtos e serviços. A aplicação proativa e estratégica de HAZID e HAZOP fornece às empresas as ferramentas necessárias para não apenas atender, mas também superar os requisitos estabelecidos pela ISO 14001. Essas metodologias auxiliam na antecipação de cenários de vazamentos, emissões e acidentes ambientais, permitindo a incorporação de controles preventivos que garantem a conformidade legal e minimizam danos ecológicos.

Em última instância, o uso estratégico de HAZID e HAZOP confere às empresas uma postura proativa e preventiva frente aos riscos, em linha com os princípios de precaução e transparência que norteiam a agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) global. Em um contexto no qual a margem para falhas é cada vez menor – seja por pressão regulatória, por exigência de investidores ou pela responsabilidade socioambiental –, antecipar riscos e agir antes que eles se concretizem tornou-se um diferencial competitivo.

TÜV Rheinland: há 150 anos tornando o mundo mais seguro

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A empresa capacita profissionais em diversas áreas e certifica sistemas de gestão conforme padrões internacionais. Com expertise reconhecida em áreas como mobilidade, fornecimento de energia e infraestrutura, a TÜV Rheinland também se destaca na avaliação de riscos e na segurança funcional, assegurando qualidade independente em todas as etapas, inclusive em tecnologias emergentes, como hidrogênio verde, inteligência artificial e condução autônoma. Dessa forma, contribui para um futuro mais seguro e melhor para todos. Desde 2006, a TÜV Rheinland é signatária do Pacto Global da ONU, que promove a sustentabilidade e combate à corrupção. Para saber mais, acesse: https://tuv.com